Hoje faço 35 anos. Gosto de fazer
anos. Gosto desta data que encerra a esperança renovada num recomeço e no
início de um novo ciclo. Já se lá vai o tempo em que fui acometida pela
inquietação de já não ser uma miúda de 20 e tal anos com todo o tempo do mundo
para concretizar sonhos e projetos. Já se lá vai o tempo em que fui esmagada
pela terrível constatação acerca da efemeridade e fragilidade da vida e a
urgente necessidade de agir, de passar das ideias aos atos. Estas inquietações já
não me assolam o pensamento ou tolhem a paz de espírito. Não porque tenha
finalmente conseguido concretizar algum feito digno de registo ou, tão pouco, porque
tenha resgatado do fundo da gaveta ideias e projetos adiados para os materializar
em obra feita. Simplesmente, percebi que o extraordinário se esconde nas
pequenas coisas do dia-a-dia. Simplesmente, percebi que a grandeza de cada um
não se mede pelos feitos ou conquistas dignas de registo e admiração por parte
dos outros. Mede-se sim, pelos sentimentos que somos capazes de despoletar no
outro, pelo sorriso que arrancamos, pelo aconchego de um abraço, pelo olhar que
vê e pela palavra que vai direta ao coração. Simplesmente, percebi que o mais
importante não é a incessante busca pela perfeição dos atos e das coisas que
fazemos, mas sim ser perfeitamente capaz de largar tudo para dar a mão àqueles
que amamos e caminhar ao seu lado. Simplesmente, percebi que o importante não
são as coisas, mas sim as pessoas. O importante não são as concretizações e o
reconhecimento dos outros, mas sim os outros em si mesmos e as relações que
estabelecemos com eles.
Há um ano atrás, nesta data,
perdi-me. E, no meio da mudança, procurei desesperadamente por um rumo. E foi nessa busca
desenfreada pelo meu norte que recebi a maior dádiva de todas. Foi no meio da
perda que encontrei o bem mais precioso. Perdi coisas, perdi lugares, perdi
momentos, perdi pessoas, perdi sonhos e crenças. Mas, encontrei-me a MIM. E ao
encontrar-me a mim, aprendi o verdadeiro significado da gratidão. Porque, por
mais difícil que o caminho tenha sido, e continue a ser, por mais que a vida
não esteja resolvida e me tenha trazido até um norte que ainda não é o meu,
estou grata por estar exatamente onde estou. Estou grata por ter vivido o que
vivi e que me trouxe até aqui. Porque a dificuldade trouxe-me até mim. E porque
não cheguei até mim sozinha. A orientar-me na escuridão, tive luzes que me guiaram,
tive bússolas que me orientaram. Essas luzes, têm braços que me acolheram e
mãos que me seguraram. Essas bússolas, têm nome de gente, gente que foi a minha
rede quando eu aprendia a andar de novo e caminhava sobre o trapézio da vida. Por
isso, estou grata pelos meus 35 anos. Estou grata pela vida e pelas suas
dádivas. Estou grata pela minha filha e por todas as bússolas da minha vida. <3 font="">3>