6 de junho de 2009

primeiro as primeiras coisas

Primeiro, as primeiras coisas. É com este lema a povoar a minha mente que me levanto todos os dias e deambulo pela casa, ainda não completamente acordada, numa luta interior entre a irresistível tentação de voltar para a cama e o peso esmagador da responsabilidade de cumprir as intermináveis tarefas domésticas que me aguardam.
As primeiras coisas são, invariavelmente, tomar o pequeno-almoço, tomar banho e vestir-me. As segundas primeiras coisas podem ser cozinhar, limpar a casa ou passar a ferro. O importante é estabelecer prioridades e aproveitar ao máximo as escassas horas que ainda me restam antes da B. despertar. No entanto, o que tenho vindo a constatar é que, mais horas a B. dormisse, mais tarefas eu arranjaria para fazer. E coisas como ler, escrever, pintar ou simplesmente ver algumas das minhas séries preferidas que vou gravando na esperança de arranjar tempo para ver, vão sendo indefinidamente adiadas.

Felizmente, posso contar com o suporte da minha mãe para muitas tarefas. No entanto, o curioso é que se até há pouco tempo eu praticamente não cozinhava ou raramente passava a ferro, aos poucos fui assumindo a responsabilidade de mais e mais tarefas até que não restou nada para delegar. Não que a minha não continue disponível para me ajudar ou até se mostre interessada em o fazer. Eu é que há medida que me fui embrenhando pelo mundo das lides domésticas fui apanhada por uma avassaladora necessidade de controlar tudo o que se passa na minha casa e acometida de um ataque de perfeccionismo. Já não basta passar a ferro, há que fazê-lo com apuro, dobrar impecavelmente cada peça de roupa. Fazer a cama não é suficiente, há que esticar os lençóis na perfeição como se alguém pudesse ver através da colcha desmascarando o embuste por detrás do quadro de esmero. Enfim, é como um monstro que estou a criar dentro de mim, que se alimenta da minha obsessão por ser (ou parecer) perfeita e dos meus pensamentos persecutórios do dever não cumprido, que tomou conta de mim de tal forma que não me deixa desfrutar das pequenas grandes coisas que me trazem prazer sem sucumbir perante o assalto de culpa que imediatamente me derruba e me leva de volta à esfregona, ao ferro e às panelas.

O grande problema é que jamais conseguirei fazer tudo o que tenho de fazer. As tarefas nunca se esgotarão, a casa nunca estará impecavelmente limpa, ou as gavetas suficientemente arrumadas. Querer alcançar a perfeição é acabar inevitavelmente submersa pela frustração e aniquilar qualquer possibilidade de poder retirar algum prazer da vida. No outro dia, li uma frase que me orienta agora na busca por alguma tranquilidade e na tentativa de reordenar as minhas prioridades colocando em primeiro lugar algumas coisas como por exemplo, escrever este post, que hoje foi a primeira primeira coisa que fiz. Dizia a frase que “o maior desafio é aceitar que as coisas são imperfeitas”.

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