4 de março de 2012

...

Foi a minha avó Eugénia que, ainda antes de eu saber ler e escrever, me ensinou a manusear agulhas e linhas, a fazer crochet, tricot e "bainhas abertas". Foi a minha avó Eugénia que me comprou o primeiro caderno e o primeiro lápis para que o meu tio-avô Manuel Augusto me ensinasse a escrever o meu nome e a conhecer o alfabeto antes de eu ir para a escola, que na aldeia não havia ensino pré-escolar. Foi a minha avó Eugénia que me deixou, a mim e às minhas primas, fazer bolos, biscoitos e crepes, virando a cozinha do avesso e sujando pilhas de loiça que ela depois pacientemente lavava e arrumava. Foi dela que herdei o gosto pela costura, pela malha e renda, pelas coisas feitas em casa com atenção ao detalhe e acabamentos perfeitos. Foi também dela que herdei a obcessão pela arrumação e organização, a fobia aos pelos dos cães e, possivelmente, o sentimento de culpa por ser incapaz de alcançar a perfeição naquilo a que me proponho. Outras coisas houve que ela me transmitiu e que não encontraram em mim caminho para singrar, como as inúmeras superstições que a atormentavam. A sua característica mais marcante era sem dúvida a defesa acérrima da família e de tudo o que a ela dissesse respeito. Dois meses e poucos dias depois de me despedir da minha mãe é a vez de dizer adeus à minha avó Eugénia.

Sem comentários: